reportagem
Machado de Assis, centenário revela um escritor eternamente presente
Repórter: FLÁVIA SERRANO CAYRES
Em 2008,comemora-se cem anos da Morte de Machado de Assis.O escritor,que é considerado um clássico da literatura, revela ao leitor, em sua obra,a realidade do Brasil e descreve de forma inusitada, para sua época, o sentimento humano.Machado,com seu humor irônico e escrita minuciosa,surpreende o leitor a cada página lida.
De acordo com o professor de Literatura Brasileira da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Araraquara(SP), Wilton José Marques, Machado de Assis é considerado escritor universal por não descrever somente a sociedade brasileira, mas também o ser humano."Sua obra literária é do mesmo porte da obra de um Flaubert, de um Dostoievski, de um Kafka, etc. Sobretudo, porque ela toca em temas que não dizem respeito apenas a sociedade brasileira, mas, de modo geral, ao ser humano.Talvez por conta do desprestígio da Língua Portuguesa, a sua ressonância mundial não seja ainda tão grande.De qualquer modo, traduzido em diversas línguas, o bruxo vem sendo paulatinamente descoberto", analisa.
Em relação à obra machadiana, o professor fala sobre sua visão perante a obra. “Dentro do processo de formação de qualquer escritor o trabalho incessante de reescritura do texto literário é uma necessidade imperiosa que antecede a individuação da voz literária. Foi o que Machado fez. E, na sua relação obsessiva com a literatura, a reescritura foi um modo de complexificar o seu projeto literário no sentido de torná-la mais profunda".
Cada vez mais o escritor,por apresentar uma nova linguagem frente sua época,atrai estudiosos desde da crítica literária à sociologia.Este interesse, conforme Marques, surge por ser uma obra que oferece ao leitor novas possibilidades de entendimento a cada releitura."É assustador perceber que vários aspectos da visão machadiana sobre a sociedade brasileira oitocentista são válidos ainda hoje. Como, por exemplo, as relações de favor e compadrio, que são práticas de poder completamente entranhadas na vida política brasileira. A obra de Machado está aí para nos lembrar o que já fomos, resta-nos, a partir de sua leitura, pensar então sobre o que queremos ser".
O docente alerta o leitor que se interessa pela obra e que tem alguma dificuldade em interpretá-la.“É importante frisar que a busca pelo conhecimento, literário ou não, nem sempre é fácil. As dificuldades fazem parte do próprio processo de aperfeiçoamento individual de cada um. Um leitor bem formado transforma-se num cidadão consciente. Este é um círculo vicioso que devíamos almejar sempre".
Por ser uma obra da qual é tema nos principais vestibulares do país, Marques frisa a importância do professor para a boa interpretação do aluno. “Como mediador, ele precisa se esforçar para ajudar seus alunos, e,sobretudo, contribuir para que o ato de leitura seja encarado como algo natural. Quando o aluno consegue perceber que o conhecimento é, antes de tudo, libertação, a sua disposição, inclusive para enfrentar textos difíceis, torna-se ainda maior. No limite, pode-se dizer que literatura é o compartilhamento de experiências que, por sua vez, nos ajudam a crescer e a entender o mundo em que vivemos. Nesse sentido, a leitura de Machado é sempre imprescindível”,conclui.
Para a universitária Juliana Retamero, Machado de Assis é considerado referência para a literatura.“É muito importante estudá-lo, pois através dele adquirimos mais cultura e aprendemos sua linguagem que se torna uma ajuda para o conhecimento de si mesmo”.
Machado de Assis
Joaquim Maria Machado de Assis, cronista,contista, dramaturgo, jornalista, poeta,novelista,romancista, ensaísta e crítico, nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 21 de junho de 1839. É fundador da cadeira nº 23 e escolheu José de Alencar para ser seu patrono, da Academia Brasileira de Letras.Por sua importância, a Academia passou a ser chamada de Casa de Machado de Assis. Entre suas principais obras estão “Dom Casmurro”, (1899), “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (1881) “Quincas Borba" (1891) e “ O Alienista" (1882).
"A loucura, objeto dos meus estudos, era até agora uma ilha perdida no oceano da razão; começo a suspeitar que é um continente." (O Alienista